Notas soltas
1. Há títulos de imprensa que me deixam perplexo: «PS acata veto político do Presidente À Lei da Paridade» (Público, 03.06). O titulo só faz sentido se houvesse a possiblidade de desacatar. Não havendo (exigira maioria qualificada no Parlamento) o título é benevolente para o PS. 2. Outro título no mesmo jornal: «Cavaco Silva: O abandono do suprapartidarismo». Isto a propósito de veto político à Lei da Paridade. Esta interpretação do veto presidencial só faria sentido - mesmo que mal interpretada - se a votação tivesse dividido o CDS e o PSD, por ou lado, e o PS, PCP e BE, por outro. Como o PCP votou em conjunto com o PSD e o CDS não se vislumbra onde está o abandono do suprapartidarismo.
3. O Fisco tem vindo, nos últimos anos, a alterar a sua atitude em relação à cobranças dos impostos e à punição dos devedores. O laxismo reinante durante décadas e décadas está a dar lugar à eficácia, à celeridade, à facilidade no uso dos meios informáticos. Os resultados começão a aparecer: mesmo sem crecimento económico, as receitas dos impostos aumentam, como notícia o Expresso. 4. «Se o PS quer "acelerar" a mudança cultural e política deve dar o exemplo. Não tem que o impor a qualquer outra força partidária. Já o fez no partido, mas não o fez, sintomaticamente, no Governo. » António José Teixeira, DN.
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COMO DIRIA MESTRE ZÉ GOMES FERREIRA: LIXEM-SE! «Lusco-fusco. Tantas da tarde. No Chalhariz, já a chegar ao Largo do Camões, quem vejo? À Minha frente, e reconheci-o pela sua bela cabeleira prateada (não confundir com a peruca despenteada do Abelaira, reles imitação), Mestre Zé Gomes Ferreira, comendo a furiosas dentadas um palmière. Um rapazito de oitenta anos, com tanta gula e alegria, como eu gostaria de ter, se chegasse à idade dele (não chego, descansem).- Mestre!Olhou para trás, desconfiado, deu a última dentado no bolo, não fosse eu roubar-lho, aturou-me. E como?- Mestre – repeti bem alto -, estou a ler o seu último livro e estou a gostar muito…Era a Memória das palavras. Ele falava bastante do Teixeira de Pascoaes e com o Pascoaes visto pelo Zé Gomes temos sempre que aprender. Diz-me o Mestre:- É pá, é uma chatice. Tas a ver: um escritor aos oitenta anos, queque pode fazer. Escreve. E, depois? Repete-se, diz baboseiras, sei lá…Digo ao Mestre:- Não está certo. O Mestre diz ali coisas muito giras, sobre o Pascoaes e mais.Já estávamos na esquina da Rua da Misericórdia.O Mestre, despede-se num gesto largo, sem contradita:LIXEM-SE!»
(Luis Pacheco, Textos de Guerrilha, Ler, Editora, 1981)
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