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O país político vive de aparências, cobertas por grande parte da comunicação social, que defraudam a democracia. É preciso chamar os bois pelos nomes. Neste momento, temos uma aparência de governo e não temos um primeiro-ministro - aquele que orienta o rumo do governo, o homem do leme. Já estávamos a ser governados por um governo de iniciativa presidencial, mesmo que informal, chefiado por Vítor Gaspar. A ida a Belém, num sábado à tarde, em começos de Abril, de Vítor Gaspar, depois da declaração de inconstitucionalidade de normas do OE, formalizou a situação. O discurso do senhor presidente da República, no dia 25 de Abril, tornou inequívoca a iniciativa presidencial desse governo. Mas, numa manhã de canícula, Vítor Gaspar desertou. A proposta do governo para que o ex-ministro das Finanças fosse substituído por Paulo Portas, como o homem do leme, não mereceu a aprovação do senhor presidente da República porque não confia no antigo director do Independente, e muito menos no ainda presidente do PSD que, neste jogo de aparências, insiste em se fazer passar por primeiro-ministro. O senhor presidente da República quer outro governo de sua iniciativa, agora sem subtilezas, e com desprezo total pelas mais elementares regras da democracia. Um governo com um programa para quase uma década, que o ponha a salvo de interferências eleitorais, porque isso são coisas irrelevantes que irritam mercados e credores. E ainda há quem aplauda esta tentativa de nos arrastar para este lamaçal. Quem não perceber o que está aqui em causa é porque não percebeu como muitas democracias degeneraram em regimes autoritários, em ditaduras, por iniciativa ou com o apoio de muitos democratas.