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Por mais que o tema tenha sido comentado, não há maneira de fugir à desgraça que nos caiu em cima. A notícia que recebemos, com o desprazer próprio de quem não a esperava, de que a nossa capacidade de pagar o que devemos foi atirada para o lixo, como se fôssemos uma rodilha, gasta e ensebada, provocou uma estranha comoção nacional. E logo a nós, portugueses, herdeiros da gesta que cruzou mares desconhecidos e galgou terras sem fim, cumprindo um desígnio universalista, num tempo em que, é preciso dizê-lo, os antepassados de alguns senhores da Moody''s se amontoavam nas prisões de Londres por terem assassinado pai e mãe e por outros crimes do género. A comoção nacional a todos tocou, e não era para menos. Desde o canalizador do meu bairro até ao senhor Presidente da República. Este, homem sisudo e de parcas palavras, que se manteve em silêncio sepulcral na iminência de uma crise política, em Março, a qual acelerou vertiginosamente o aumento dos juros dos agiotas protegidos dessas agências e dificultou o acesso ao crédito de que precisamos como pão para a boca, desatou finalmente a língua contra as agências de notação. Envoltos na espuma dos dias, já nem sequer nos lembramos que, em Março, os juros dos empréstimos a três anos estavam nos 6% e hoje estão nos 19%. Como, também, não nos interessa lembrar que uma outra dessas agências de notação nos desclassificou cinco níveis, em Abril passado, empurrando-nos, então, perigosamente para o que eles classificam como lixo. Nessa altura, ninguém tugiu nem mugiu, como se isso se encaixasse num plano de descrédito do anterior primeiro-ministro.