Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A história das próximas eleições presidenciais reduz-se a saber qual a dimensão da derrota do homem que queria ser presidente.
Já aqui escrevi, em Setembro:
Para Manuel Alegre, enquanto candidato à presidência da República, mais pesada que a derrota eleitoral de Janeiro próximo, foi a estrondosa derrota nas eleições legislativas de Setembro de 2009, há precisamente um ano. O ex-deputado socialista apostou tudo na derrota do PS e num significativo crescimento eleitoral do Bloco. Procurou, ao lado de Louçã, no Teatro da Trindade e na Aula Magna, chamar ao BE os descontes de esquerda com a governação socialista e os órfãos partidários. Não perdeu, então, uma única ocasião para vilipendiar o partido onde sempre se abrigou, ameaçando dia sim, dia não com a formação de outro partido. O sonho parecia simples e exequível: 1) um PS derrotado, em crise e à beira da implosão; 2) um BE forte, com 17 ou 18%; e Manuela Ferreira Leite a dirigir o governo e a aplicar duras medidas de austeridade. Esta era a base de partida para o projecto «venezuelano»: a vitória nas eleições presidenciais e a constituição de um partido socialista unificado, com o BE, destroços do PS e órfãos e descontentes de todas as matizes. O PCP viria a reboque, tal como na Venezuela os comunistas andam a reboque do tenente-coronel e do seu «socialismo do século XXI» – uma mistela ideológica, onde a ambição pessoal ocupa um espaço privilegiado. Raramente a realidade acompanha o sonho. A vitória de José Sócrates nas legislativas e o insuficiente resultado eleitoral do BE esburacaram a urdidura. Agora, apenas assistimos a uma penosa caminhada de Manuela Alegre até Janeiro.
Acrescento:
Para Francisco Louçã, a partir da vitória eleitoral do PS nas legislativas 2009, a ambição política mudou de rumo. Em Janeiro, no dia a seguir a Manuel Alegre ter apresentado a sua «disponibilidade» para ser candidato, Louçã apressou-se a declarar o apoio do BE à candidatura, «amarrando-o» a esse apoio. O objectivo do BE, nesse momento, passou a ser mais reduzido: esperava que o PS apresentasse um candidato presidencial e, por essa via, derrotar, com o seu candidato – Manuel Alegre, o candidato do PS. Isso conferia ao Bloco uma vitória eleitoral sobre os socialistas – um velho sonho de Louçã. O secretário-geral do PS não lhe fez a vontade e deu-lhes (a Louçã e a Alegre) o golpe fatal: apoiou o candidato do BE. Agora, Louçã (já percebeu que foi derrotado) esconde que está, lado a lado, na Comissão de Honra da candidatura de Alegre, com José Sócrates. Como se apagar Trotsky da fotografia adiantasse alguma coisa.