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As auto-estradas mataram o prazer das viagens; ampliaram a nossa ignorância sobre aldeias e vilas lindíssimas, sobre parte considerável do nosso património; afastaram-nos do convívio com os nossos conterrâneos mais isolados e de restaurantes genuínos. Empobreceram o nosso conhecimento e a vontade de descobrir, do acaso e da aventura. Hoje, mesmo quando vamos em férias (ou nos designados «fins-de-semana prolongados») entramos numa auto-estrada à porta de casa, em qualquer ponto das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, e saímos à porta de casa no destino, apenas permitindo uma breve paragem para comer uma sandes numa qualquer estação de serviço. Ainda há pouco mais de duas décadas, a caminho do Algarve, raramente repetia o mesmo percurso. Umas vezes viajava o mais próximo da costa, parava aqui e ali, e almoçava ora no Cercal, ora em Odemira; outras vezes, ia por Ferreira do Alentejo, almoçava um cozido de grão no cruzamento de Canhestros, ou em Ervidel, e quando chegava a Castro Verde decidia, então, se ia pela Serra do Caldeirão, com paragem obrigatória no restaurante da Tia Bia, em Barranco do Velho, ou se seguia por Mértola, Alcoutim, Guerreiros do Rio (onde se petisca muito bem) em direcção à Foz de Odeleite. Hoje, as auto-estradas obrigam-nos a correr, na esperança de ganharmos tempo. Mas só perdemos.