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O Nuno Ramos de Almeida não deve ter aprendido a ler pela Cartilha Maternal (ou Arte de Leitura) de João de Deus, como eu. Por isso, ou porque se diverte, trunca a opinião dos outros para daí tirar efeitos fáceis. Aprecio o seu sentido de humor e divirto-me, como ele sabe. Num comentário a um post no blogue onde escreve, Nuno Ramos de Almeida escreveu:
a) O Tomás garante que a constituição portuguesa não permite demitir Sócrates porque ele foi “eleito”.
Se o Nuno soubesse ler, teria lido o que escrevi: «O Presidente da República, que pode demitir o primeiro-ministro, assobia para o ar; os partidos, que podem apresentar uma moção de censura ao governo, encolhem-se e escondem-se uns atrás dos outros.»
A Constituição Portuguesa permite, obviamente, demitir o primeiro-ministro. Só que ninguém diz: obviamente, demite-o. Coisa diferente (mas quem não sabe ler não entende e eu tenho pouco jeito para desenhar «bonecos») é substituir um primeiro-ministro sem ser através de eleições, como uns democratas de meia-tigela pretendem. A Constituição também permite substituir o primeiro-ministro sem eleições, como vimos com Santana Lopes, mas não é a mesma coisa! E o Nuno prossegue:
b) Aconselho-vos este post do Tomás Vasques em que chama a Zelaya golpista e elogia a democracia colombiana. Alguém explica ao Tomás Vasques que foi o exército hondurenho que ele tanto admira (bom como o chileno) que fez um golpe de Estado contra o presidente eleito.
O Nuno, para além de me atribuir «admirações» por exércitos que nunca expressei, se soubesse ler, teria lido o que escrevi: «A reeleição do presidente contra as regras constitucionais vigentes, através de consulta referendária para o efeito tornou-se a pedra de toque na consolidação das democracias latino-americanas. (…) Na Venezuela, Hugo Chávez violou as regras constitucionais para se manter no poder. Do mesmo modo, nas Honduras, o golpista Manuel Zelaya tentou, sem sucesso, seguir o exemplo de Hugo Chávez, mesmo contra as decisões judiciais. Na Colômbia, Álvaro Uribe tenta a mesma «sorte» de Chávez. Mas s Corte Constitucional da Colômbia disse não à reeleição de Uribe.»
A questão que o Nuno coloca é simples: ele gosta de Presidentes eternamente no poder e se a Constituição não permite que se façam referendos para que isso aconteça. Gosta do Chávez que conseguiu o poder eterno e de Zelaya que tentou, mas não conseguiu. Só não percebo porque não gosta do Uribe que, também, queria ficar no poder mais uns anos. Estou certo que Nuno Ramos de Almeida defenderá Uribe se este, como fez Zelaya, forçar a realização de um referendo contra a decisão do Tribunal Constitucional da Colômbia e o exército o destituir. Eu gosto de democracias que respeitem as regras constitucionais e ninguém se eternize no poder. Aqui, em Portugal, o meu amigo Nuno quer destituir um primeiro-ministro eleito há 4 meses; enquanto na América Latina, ele «aposta» em todos os que querem ficar 10, 15, 20 anos no poder. É uma posição estranha. Mas é a opinião dele.