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Consta que Oliveira Salazar recebia no seu gabinete de trabalho, em S. Bento, Silva Pais, o director da Pide, com quem despachava directamente os «assuntos de Estado» da competência da polícia política. A conversa entre os dois, em certas ocasiões, é fácil de adivinhar. Silva Pais, risonho e triunfante (já esquecido aquele soberbo raspanete dado pelo velho ditador de Santa Comba Dão a propósito dos devaneios amorosos de sua filha, amante de generais cubanos) informava sobre a recente prisão de não sei quantos comunistas e o desmantelamento de células inteiras. Salazar, parco em palavras e entusiasmos, deixava descair, nariz abaixo, os óculos e perguntava, objectivo: e como o senhor conseguiu tal sucesso? Introduzimos um agente qualificado, a quem demos um curso de marxismo, numa célula na margem sul do Tejo, respondia o director da Pide, com os olhos a brilhar de contentamento. Salazar, ajeitava a manta sobre os joelhos, e dizia, num tom seco e com voz de falsete: admiro a coragem desse homem em explicar-nos como funciona a “rede tentacular” dos comunistas. De seguida, agradecia a Silva Pais o seu «engenho e arte» ao serviço da Nação e despedia-se do homem à distância. Hoje, o vale tudo reinante, tem a ver com a perda da memória do passado.