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No Público de hoje, no seu artigo de opinião habitual, José Pacheco Pereira volta a defender a dama pela qual se tem batido com denodo nos últimos tempos: a «asfixia democrática». E queixa-se amargamente das dificuldades em «explicar a falta de ar a quem está habituado a respirar tóxicos.» Pacheco Pereira não pode deixar de saber as razões porque ninguém lhe liga patavina. A primeira razão – e ele conhece-a muito bem –, é a confusão entre a árvore e a floresta: atribui a um partido (ao partido no governo, ao PS) os males e os vícios em que o Regime assenta. A segunda razão reside no facto de Pacheco Pereira – e ele sabe muito bem – ser um dos protagonistas (pelos cargos que desempenhou e pelo que fez) da emissão de «tóxicos» quando o seu partido, o PSD, esteve no governo, sobretudo com Cavaco Silva. A utilização dos males e vícios do regime contra um partido só pode enganar incautos. A prova disso é que o PSD, na campanha eleitoral para as legislativas, brandiu a «asfixia democrática» como um machado de guerra, mas não fez uma única proposta, não gastou uma única palavra a dizer como ia acabar com a dita. José Pacheco Pereira sabe que a «asfixia democrática» deriva de uma teia complexa de grandes e pequenos interesses entranhada até à medula na sociedade portuguesa, da base ao topo, e tecida, ao longo de muitas décadas, à medida da nossa cultura democrática. Acabar (diminuir) a «asfixia democrática» na sociedade portuguesa é um combate político e cívico de uma ou duas gerações. Ou muito mais, caso se persista – como o faz Pacheco Pereira – em a usar na luta partidária imediatista pelo poder e não na luta política e cívica, de médio prazo ou longo, pela melhoria da qualidade do ar que democracia portuguesa deve respirar.
(Publicado aqui)