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A presente campanha eleitoral estava viciada à partida. Não admira, pois, a pobreza com que se tem desenrolado, entre jantares de carne assada, feiras, romarias, comícios e o elogio do comezinho e da banalidade. Ao assinarem o memorando proposto pela troika, ao qual, aqui chegados, não podiam escapar, os principais partidos políticos, PS, PSD e CDS-PP, ficaram sem margem de manobra para inventar programas eleitorais ou soluções diferentes daquelas que se comprometeram a executar, arredando qualquer discussão de propostas de caminhos diferentes. O dito memorando é o programa de governo, seja quem for o primeiro-ministro, para os próximos três anos, pelo menos. E como este programa de governo não tem uma única boa notícia para os portugueses (pelo contrário, é um rosário de más notícias), os partidos que o subscreveram optaram por o referir o menos possível, por silenciar as medidas dolorosas que aí se exigem. No imaginário político, sobretudo nos países latinos, as campanhas eleitorais destinam-se a prometer sonhos, a apontar o caminho para o Paraíso na Terra, mesmo que isso só se consiga através de um cartão de crédito. Desta vez não há sonhos para oferecer. Quando muito, se a campanha eleitoral fosse a sério, apenas se poderia debater o alcance dos pesadelos que estão aí, ao virar do 5 de Junho. Mas, o que é natural, ninguém está interessado nisso, a não ser o PCP e o BE, partidos que apostam e acreditam no desmoronamento iminente do "sistema" em que vivemos, quer em Portugal, quer na Europa, e por isso, porque crêem religiosamente que a revolução está na ordem do dia, estimulam o descontentamento que as dificuldades provocam, a fim de apressar o dilúvio. Põem-se de fora de qualquer solução governativa, como se os portugueses apenas lhes interessassem como carne para revolução.
A convivência democrática tem regras. E deve ser energicamente condenado qualquer manifestação que procure impedir ou perturbar o direito de reunião de um partido político. Ainda mais em campanha eleitoral. Foi o que aconteceu ontem, em Faro, num comício do Partido Socialista. Francisco Louçã, por exemplo, defendeu de imediato que «todos os comícios dos partidos devem ser desenvolvidos em toda a liberdade, sem qualquer intervenção, sem qualquer pressão». Ao contrário, Passos Coelho disse, referindo-se àqueles que procuraram limitar o exercício do direito de reunião: «não é normal que quando as pessoas se manifestam sejam tratadas de forma violenta». Primeiro, não há notícia de que alguém tivesse sido tratado com «violência»; segundo, o líder do PSD tem uma estranha e perigosa concepção do exercício dos direitos democráticos, mostrando a sua simpatia pela provocação feita a uma reunião de um partido em campanha eleitoral
Passos Coelho quer alteração à lei do aborto.
Passos Coelho não quer alteração à lei do aborto.
Francisco Louçã anda a vender bacalhau a pataco.
Paulo Portas insiste tanto, nestas eleições, que é «candidato a primeiro-ministro» porque nunca esteve antes perante um líder do PSD tão frágil, ao ponto de, no contexto que todos conhecemos, não conseguir descolar de José Sócrates nas sondagens. O líder do CDS-PP deve pensar: nunca mais terei outra oportunidade como esta. Pensa e vai dizendo diariameente.
A escadaria da Universidade de Coimbra, um bem do nosso património histórico, com 800 anos, foi alvo de um acto de selvajaria puro e simples. Esta noite, consta que Jerónimo de Sousa fará um comício sobre aquele crime patrimonial. Se fosse alguém do PS, do PSD ou do CDS a cometer aquela atrocidade, o líder dos comunistas arranjaria os adjectivos adequados à classificação do acto. Como foi gente do seu partido certamente não dirá uma palavra. O mesmo silêncio cúmplice com outras atrocidade no passado.
(O Alexandre Pomar informa que a «identificação» histórica da escadaria feita pelo í não é correta. A escadaria é de Cottineli Telmo, anos 40. feita a rectificação não deixa de ser património.
A dança das sondagens continua. Hoje, a sondagem da Eurosondagem, para a SIC/RR/Expresso, revela outro «empate técnico», situando o PSD 0,5% acima do PS. E o CDS à beira dos 14%. Afinal, continua tudo preso por arames?
Interessante a leitura de Pedro Magalhães sobre «o efeito dos debates». E também o House effects.
Na sondagem apresentada hoje, da Intercampus, para o Público e TVI, o PSD está claramente à frente. Não dá para perceber se é efeito do debate, se efeito da sondagem. Aguardemos os próximos capítulos.
A senhora Merkel tem coleccionado, em eleições «regionais», derrota atrás de derrota eleitoral, nos últimos tempos. Algumas derrotas têm sido históricas. A última foi em Bremen, onde ganhou o SPD e os Verdes ficaram à frente do partido da chanceler alemã. Mas, hoje, na blogosfera passista só se falava da vitória do PP, em Espanha, onde a direita do país vizinho cresceu 1,5% em relação às últimas eleições, em 2007. Conclusão: há uns mais iguais que outros.
Jerónimo de Sousa disse hoje, em Évora, que José Sócrates «traiu os ideais de esquerda». É conversa de treta, como sabemos. O PCP disse o mesmo de Mário Soares e António Guterres. Diz sempre o mesmo do Partido Socialista. Não tem, nunca teve, desde 1975, qualquer assomo de entendimento a nível nacional com o PS (sabemos que em qualquer entendimento ambas as partes têm de ceder) porque pensam que, um dia, o poder lhe cairá nas mãos na sequência do desmoronamento do capitalismo. Ilusões com mais de um século de atraso. E, por isso, para apressar a queda do capitalismo, tudo faz para que a Direita governe. Pensam que assim é mais fácil gerar descontentamentos. Um PCP assim não serve para nada. Nem para os portugueses, nem para a esquerda (mutatis mutandis para o BE).
Independentemente da sentença judicial, o que já não pode ser apagado: uma trabalhadora não qualificada derrubou definitivamente o poderoso DSK, num quarto de um hotel, entre a sede do FMI e uma reunião com a chanceler alemã, a senhora Merkel, onde iria discutir a reestruturação da dívida grega e, provavelmente, mais medidas de austeridade para gregos e troianos.
Há um ano chegou a primeira tranche da «ajuda financeira externa» (a troika do costume) à Grécia. Seguiu-se a Irlanda e, depois, Portugal. Hoje, já se sabe que a Grécia não tem como cumprir os seus compromissos financeiros e discute-se o grau da inevitável reestruturação da dívida: mais suave ou mais violento. Os investidores, entre os quais muitos bancos europeus, já fazem contas à vida e às «perdas». O primeiro ciclo – a ajuda externa – ainda está em curso, já o segundo ciclo – a reestruturação das dívidas soberanas – se está a iniciar. Tudo está a ser tratado com pinças não vá o diabo tecê-las e eclipsar o sistema bancário. Sem pessimismos: o pior ainda não chegou.