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O governo português, nomeadamente o primeiro-ministro, no que tem sido acompanhado pelo Presidente da República, têm insistido em transmitir, com tanta convicção, como subserviência, aos nossos credores, a ideia de que "Portugal não é a Grécia". No começo deste mês, Passos Coelho foi em peregrinação a Berlim vender esta ideia, que encerra todo um programa anti-europeu, à senhora Merkel. A ânsia de distanciamento em relação à Grécia só pode ser entendida como falta de solidariedade para com um dos estados-membros a atravessar dificuldades que resultam, tal como em Portugal, de muitos e muitos anos e de muitos e muitos governos. Esta falta de solidariedade, este apontar o dedo à Grécia como a "má da fita", excomungando-a, é das atitudes políticas que mais contribuem para a desagregação da União Europeia e do euro. É uma ideia querida entre a direita europeia mais conservadora e a extrema-direita, mas completamente desajustada na boca de dirigentes políticos, mesmo de direita, de um país como Portugal. Até o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, tem uma postura mais europeísta que o nosso primeiro-ministro e o nosso Presidente da República. Ontem, em Varsóvia, declarou que a Zona Euro, no seu conjunto, apresenta melhores resultados do que as economias de outros grandes países desenvolvidos, citando o exemplo dos Estados Unidos, onde o défice é de 8,8% contra os 4,5% na Zona Euro. E sublinhou que "estão a ser corrigidos os erros ao nível de alguns países, considerados individualmente", com défices e dívidas públicas altas, provavelmente referindo-se à Grécia, mas também a Portugal. Olhar a União Europeia como um todo e a Zona Euro no seu conjunto é a única atitude que nos pode salvar da ganância dos mercados e do espírito desagregador que se instala por todo o lado.